Você é honesto? Ser interpelado com
uma pergunta assim, à queima roupa, faz-nos responder quase que automaticamente
um ‘sim’ resoluto. Afinal, honestidade é algo que se aprende quando criança,
junto às “virtudes essenciais” de uma boa educação. E se à pergunta for
acrescentado um pedido de explicação de sua honestidade? Certamente,
responderia: claro que sou honesto, não roubo, não mato, não faço mal a
ninguém!
O que temos por falta de honestidade,
muitas vezes, ganha sentido amplo, de algo que levaria à punição policial e
correção pública. Ou logo pensamos diretamente em dinheiro, adultério e pecados
na ordem da sexualidade. A pergunta, porém, pode nos levar a considerar o que
temos como critério em nosso dia a dia, diante de tudo o que vivemos e as
oportunidades apresentadas.
Um fato me fez refletir sobre o
quanto o homem é posto à prova, e a força motriz disso está no pecado original
que traz consigo a raiz de todas as más inclinações. Parei em um vaga, em que
era exigido o famoso “cartão da Zona Azul”. Fui até a banca mais próxima e o
moço,
além de vender o cartão, ofereceu-se para escrever os dados. Quando olhei
no papel, ele havia “presenteado-me” com 15 minutos, ou seja, anotou 10h15 em
vez de 10h. Olhei para ele de volta, sem entender, quando ganhei uma piscadinha
e a frase motivadora: “Não esquenta! O guardinha só vai voltar daqui uns 10
minutos”.
Eu não roubei dinheiro de ninguém,
não estava desviando milhões, recebendo ou pagando propina, não matei também.
Eram só 15 minuto! Bem, o fato é que um ensinamento do Papa Francisco chegou
como um raio até minha mente e a palavra que surgia como letreiros luminosos
era: corrupção. Algo que para muitos soa exagero, para mim tornou-se
oportunidade.
Pequenas corrupções
Francisco, durante uma homilia na
Casa Santa Marta, ao falar sobre corrupção, apontou que o desonesto não pratica
o mal primeiramente a partir de coisas grandes, mas de pequenas oportunidades
que vão se colocando diante dele, convites insinuantes. “Muitos corruptos,
existem muitas pessoas importantes corruptas no mundo, que conhecemos suas
vidas por meio dos jornais. Talvez começaram com uma pequena coisa, não
sei, não ajustando bem a balança, e o que era um quilo façamos novecentos
gramas, mas era um quilo! A corrupção começa de pequenas coisas como
esta, com o diálogo: “Não, não é verdade que esta fruta vai fazer mal a você!
Coma! É boa! É pouca coisa, ninguém vai perceber! Faz, faz! E pouco a pouco
cai-se no pecado, na corrupção”, disse ele.
Não se trata aqui de medir proporções
do erro e fazer um tratado sobre moral, mas o fato é que a honestidade exige
uma educação constante, que não admite exceções. Quanto a isso, o próprio Papa
frisou que a Igreja nos ensina a “não sermos ingênuos”, a não sermos “tolos”.
Portanto, “ter os olhos abertos e pedir ajuda a Deus, porque sozinhos não
conseguimos”.
Oração e consciência limpa
O primeiro sinal vermelho, num caso
como este narrado, é dado por uma consciência bem formada, capaz de optar pela
honestidade no ato. O próximo passo é contar com a ajuda do céu, indica ainda o
Papa: “Na tentação, não há diálogo (com o demônio), reza-se: ‘Ajuda-me, Senhor,
sou fraco (…) Que o Senhor nos dê a graça e nos sustente nesta coragem; e se
formos enganados pela nossa fraqueza na tentação’, e que Ele nos dê a coragem
de nos levantarmos e seguirmos em frente. Jesus veio para isso”, concluiu o
Papa.
A vida nos proporciona um
caminho de constante educação de nossas inclinações equivocadas, fortalecimento
de nossas virtudes e opção pela santidade. Certa vez, ouvi do bispo italiano
Dom Giancarlo Bregantini, que a honestidade é ter o coração transparente. Bom,
então, pelo menos desta vez, não foram 15 minutos de estacionamento grátis que
me fizeram manchá-lo: pedi um novo “cartão”.
Liliane Borges
Jornalista e Missionária da Comunidade Canção Nova,
Liliane Borges trabalhou na cobertura de dois conclaves em Roma. Ela também
companhou o funeral do Papa João Paulo II e o pontificado de Bento XVI. Atualmente,
trabalha no Departamento de Jornalismo Canção Nova, onde é responsável pela
cobertura dos eventos com o Papa Francisco e a Igreja no Brasil.
Fonte: Canção Nova
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