Você já recebeu alguma corrente de oração?
Quem nunca recebeu, em seu celular,
pela internet ou mesmo nos bancos das igrejas, a conhecida corrente de oração?
Quem nunca recebeu aquela mensagem: “Passe essa oração para no
mínimo…?”. Falo aqui daquelas correntes em que as pessoas pedem que se
propague a devoção a um santo ou um modelo de oração, sob a pena de maldição e
desgraças. As pessoas recebem esses tipos de oração e ficam temerosas por não
continuarem a corrente.

Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com
Sou obrigado ou não a passar esse tipo de oração a diante?
Uma coisa é a corrente de oração por
uma pessoa ou uma intenção sadia, ou seja, por alguém que esteja precisando de
uma graça da cura de uma doença, um emprego, uma necessidade particular, por
exemplo. Não estou falando desse tipo de oração. Jesus ao dizer, “Digo-vos
ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for,
consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus” (Mt 18,19), declara-nos a
importância de nos unirmos em oração para pedir a graça do Pai. Podemos nos
unir em oração por uma intenção concreta e real, mesmo quando não conhecemos as
pessoas participantes da oração ou não conhecemos a pessoa por quem estamos
rezando.
Outra coisa bem diferente são essas
correntes ameaçadoras, ou seja, “ameaçam” com certos castigos aqueles que não
as seguirem à risca. São orações que prometem desgraças a quem não as fizer ou
a quem as interromper temporária ou definitivamente, ou a quem não as repassar.
Além disso, procuram sustentar tais ameaças citando falsos exemplos ou
testemunhos de pessoas que supostamente as romperam e sofreram punições; esse
tipo de ameaça realiza verdadeira “chantagem psicológica”.
Em nome de Deus
A oração é instrumentalizada e
transformada em superstição, ou seja, em oração pagã. Esse tipo de oração ou
superstição tem a intenção de instrumentalizar Deus, como que O obrigasse a
cumprir nossos desejos. Fomentam um tipo de oração, a fim de conseguir
resultados de modo mágico, fáceis, rápidos e interesseiros, sem considerarem a
verdadeira vontade de Deus. Apresentam receitas ou fórmulas mágicas para
conseguir resultados em detrimento da própria fé. Promove uma atitude de medo
de Deus ao apresentá-Lo como castigador. Difundem uma imagem cada vez mais
equivocada do Senhor, obrigam as pessoas a fazer mau uso da oração, desvirtuando-a
ou banalizando-a.
Posso ou não quebrar a corrente?
A Igreja não admite que a oração seja
instrumentalizada e reduzida a essa espécie de “chantagem psicológica”. Mesmo
que se admita a boa intenção, a de fazer crescer a devoção a determinado santo,
na realidade, é superstição, atribui-se à simples materialidade dessas supostas
orações uma eficácia que nelas não existem. Não podemos manipular Deus. Ele não
se pauta pela vontade humana nem é um dispensador de milagres conforme nossos
interesses.
O cristão não pode promover esses
tipos de correntes de oração em nome de Deus, porque se tornam falsos profetas,
e ninguém pode ameaçar ninguém em nome de Deus. As ameaças e fórmulas mágicas
para conseguir resultados são contrárias à verdadeira fé, por isso, não só
comete falta quem cria, envia e difunde essas correntes de oração, mas também
quem acredita nelas.
Vincular desgraça ou recompensa a uma
determinada corrente de oração é contrário aos ensinamentos da Igreja. Nem
prêmio nem condenação decorrem de se participar ou deixar de participar de uma
“corrente”. O Catecismo nos lembra que “atribuir só à materialidade das orações
ou aos sinais sacramentais a respectiva eficácia, independentemente das
disposições interiores que exigem, é cair na superstição” (CIC, 2111).
Quebrar a corrente
Ninguém precisa se sentir mal por
ignorá-las, quebrá-las. Aconselho que até quebrem esses tipos de correntes de
oração, porque elas nos enganam, apresentam uma falsa imagem de Deus, algo que
Ele não é, um Deus castigador e ameaçador. A pessoa acaba colocando a confiança
na corrente, na materialidade da oração e não em Deus. É por isso que essas
“correntes de oração” não merecem nossa credibilidade, e podem ser quebradas.
Quando se encontra no banco de uma
igreja, na porta da casa, papéis divulgando essas correntes de oração, lançando
maldições; ou mesmo quando recebe via internet essas correntes, não se deve
temê-las nem ficar preocupado, mesmo que prometam desgraças para quem não as
divulgar. Esses tipos de ameaças, com certeza, não têm lugar na verdadeira
religião cristã.
Padre Mário Marcelo
Mestre em zootecnia
pela Universidade Federal de Lavras (MG), padre Mário é também licenciado em
Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque (SC) e bacharel em Teologia pela
PUC-RJ. Mestre em Teologia Prática pelo Centro Universitário Assunção (SP).
Doutor em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana de Roma/Itália. O sacerdote é
autor e assessor na área de Bioética e Teologia Moral; além de professor da
Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP). Membro da Sociedade Brasileira de Teologia
Moral e da Sociedade Brasileira de Bioética.
Fonte: Canção Nova
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