O casal cristão não precisa de estripulias para viver uma vida sexual
harmoniosa
Com os problemas do dia a dia, o
corre-corre para dar conta do trabalho, dos filhos e do lar, muitas vezes os
casais acabam se deixando um pouco de lado. É normal que muitos busquem
maneiras de fazer com que o relacionamento saia da “rotina”; em certos casos,
isso é bom. No entanto, é preciso que os casais católicos tenham certo
“filtro”, tenham discernimento ao escolher uma maneira de alcançar o resultado
que desejam.

Foto: DNY59, 15551432, iStock by getty
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Alguns preferem jantar fora, outros
deixam os filhos um fim de semana com os avós e vão viajar ou ainda saem a sós,
para um simples passeio. Enfim, existem muitas maneiras de fazer “algo
diferente” com seu cônjuge. Cada casal deve buscar em sua realidade o que é
melhor para os dois. Com isso, muitos se perguntam se casais católicos podem ir
a motéis. Vou lhe dar minha opinião.
Sinceramente, não aconselharia um
casal católico a ir a um motel. Podemos dizer que o motel, no Brasil, não é
como nos EUA, por exemplo, um simples hotel de beira de estrada, onde as
famílias pernoitam para continuar uma viagem. De modo diferente, embora muitos
trabalhadores ainda utilizem o motel para pernoitar, sabemos também que a
maioria de seus frequentadores usam desse espaço para a prática da fornicação
ou para viver o adultério. Sabemos que ambas as práticas configuram pecados
graves: “Não cometerás adultério” (Ex 20,14); ou como mostra o Catecismo da
Igreja Católica (CIC):
“O adultério. Essa palavra designa a
infidelidade conjugal. Quando dois parceiros, dos quais ao menos um é casado,
estabelecem entre si uma relação sexual, mesmo efêmera, cometem adultério.
Cristo condena o adultério mesmo de simples desejo. O sexto mandamento e o Novo
Testamento proscrevem absolutamente o adultério. Os profetas denunciam sua
gravidade. Veem no adultério a figura do pecado de idolatria” (CIC n.2380).
“O adultério é uma injustiça. Quem o
comete falta com seus compromissos, fere o sinal da aliança, que é vínculo
matrimonial; lesa o direito do outro cônjuge e prejudica a instituição do
casamento, violando o contrato que o fundamenta. Compromete o bem da geração
humana e dos filhos, que têm necessidade da união estável dos pais” (n.2381).
O Catecismo da Igreja, quando fala
dos graves pecados contra a castidade, diz: “Entre os pecados gravemente
contrários à castidade é preciso citar a masturbação, a fornicação, a
pornografia e as práticas homossexuais” (n. 2396).
Ora, se o motel é um lugar onde esses
pecados podem ser cometidos abundantemente, como, então, um católico deveria
frequentá-lo? Não vejo o menor sentindo nem necessidade. Você levaria sua
esposa, por exemplo, para jantar em um restaurante onde você sabe que é sujo e
contaminado por bactérias? Claro que não! Você a respeita e cuida de sua saúde
física.
Não há como negar que a maioria dos
motéis são usados também para a prostituição, um pecado grave: “A prostituição
é um atentado contra a dignidade da pessoa que se prostitui, reduzida ao prazer
venéreo que dela se tira. Quem paga, peca gravemente contra si mesmo: quebra a
castidade a que o obriga o seu Baptismo e mancha o seu corpo, que é templo do
Espírito Santo (102). A prostituição constitui um flagelo social” (n.2355).
É o amor que gera a união corporal
Cada um de nós precisa cuidar também
da sua saúde espiritual. Quando se entra numa igreja, sua alma é envolvida pelo
sagrado. Quando você entra num local de pecado, ela é envolvida pela iniquidade
e imoralidade. São Paulo recomenda: “Não deis ocasião ao demônio” (Ef 4,27).
O casal cristão não precisa de
estripulias para viver uma vida sexual harmoniosa; não precisa de “Kama Sutra”
nem de “não sei quantos tons de cinza”, vermelho ou roxo. Ele precisa de amor e
fidelidade recíproca, de carinho mútuo, atenção um com ou outro. Essa é a
melhor preparação para uma boa vida sexual. Ele pode experimentar plenamente
o segredo da felicidade sexual no prazer e na alegria, porque sabe combinar na
cama, harmoniosamente, o corpo e a alma, o humano com o divino. Sem isso não
adiantam hormônios, estimulantes sexuais, técnicas exóticas, bebidas, músicas,
danças, sofisticações eróticas nem posições acrobáticas. Algumas dessas coisas,
usadas com equilíbrio, até podem ajudar a harmonia sexual do casal, mas se
faltar o essencial, que é a conjugação do corpo com o espírito, tudo pode
falhar e terminar em frustração.
O ato sexual não é a causa do amor do
casal, é o efeito dele. Não é o ato que gera o amor; é o contrário, é o amor
que gera a união corporal para celebrá-lo.
Como o ato sexual foi querido por
Deus, devemos entender que Ele está junto do casal nessa hora de “liturgia
conjugal”. Por isso, o casal deve respeitar a presença divina que os uniu em
matrimônio, a fim de conseguir realizar em plenitude o que Ele quis para eles.
Cristo está presente também nessa hora, pois é nesse momento que um novo ser
humano poderá ser gerado, na celebração do amor conjugal. Cristo quer incluir a
vida sexual do casal no seu projeto de santificação. Também ai o casal cresce
no seu amor, na compreensão mútua, no perdão e na paciência.
O ato sexual em clima de fé santifica
Em outras palavras, o ato sexual em
clima de fé santifica. Naquela hora é como se o casal orasse com o corpo todo.
É por isso que antigamente, após a celebração do matrimônio na igreja, o padre
ia à casa do casal benzer a sua cama; pois é no ato sexual que o matrimônio é
consumado.
O casal deve vigiar para que a
relação sexual não seja mundanizada, isto é, realizada à moda da prostituição
vendida em fitas de vídeo de filmes pornográficos. Sabemos que muitos motéis
oferecem vídeos pornográficos aos casais, mas estes não precisam disso para se
prepararem para o ato sexual.
A Igreja ensina que “a pornografia
ofende a castidade, porque desnatura o ato conjugal, doação íntima dos esposos
entre si. A pornografia atenta gravemente contra a dignidade daqueles que a praticam
(atores, comerciantes e público), porque cada um se torna para o outro objeto
de um prazer rudimentar e um proveito ilícito. Mergulha uns e outros na ilusão
de um mundo artificial. As autoridades civis devem impedir a produção e a
distribuição de materiais pornográficos” (cf.CIC n.2354).
A moral católica ensina que não se
pode fazer o bem através de um meio mal. Logo, a pornografia e outros meios
condenados pela moral não podem ser válidas no fomento do ato sexual do casal
cristão. “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a
impureza; que cada qual saiba tratar a própria esposa com santidade e respeito,
sem se deixar levar pelas paixões desregradas como fazem os pagãos que não
conhecem a Deus” (1 Tess 4,3-5 – Bíblia de Jerusalém).
Além do mais, se o casal cristão usa
de um motel, está fomentando o seu crescimento, quando deveria ser o contrário.
Está colaborando formalmente para o mal – o que não é lícito. Há muitas
outras formas sadias e legítimas para um casal rejuvenescer sua vivência
sexual. É preciso vigiar contra a máquina publicitária, que está montada em
cima de um comércio imoral do prazer, e que tende a arrastar também aqueles que
amam a Deus.
Felipe Aquino
Professor
Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o
programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o
programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de
aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação
católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do
professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino
Fonte: Canção Nova
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