Destaques

terça-feira, 12 de setembro de 2017

A Medalha da Imaculada

“Eu te agradeço, ó Pai, por ter escondido estas coisas aos sábios e inteligentes e tê-las revelado aos pequenos e aos humildes” diz Jesus. “O que é estulto no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes”; diz São Paulo (1Cor 1,27). Ao longo de toda a Bíblia, podemos constatar esta escolha de Deus através de vários exemplos. Maria também, tinha bem consciência desta maneira de agir de Deus quando canta: “O Todo Poderoso fez maravilhas em mim sua humilde serva”.

Durante as aparições de 1830, não há nem prodígio, nem segredo, mas Maria deixa simplesmente um sinal inapagável com o qual ela tenta nos familiarizar. Através da sua Medalha, Maria quer nos ajudar a entrar neste estado de espírito de Deus que se revela aos corações puros e humildes.

Estas pistas pastorais são algumas abordagens, entre outras possíveis; não podem pretender esgotar o sentido desta Medalha oferecida por Maria mesma. Num primeiro momento, detenhamo-nos sobre esta desproporção quase inverossímil entre a grandeza do nosso planeta e o sinalzinho deixado por Maria. Após, escrutaremos este “dom do Céu” à luz das Escrituras. Em seguida, veremos como o sinal da Medalha nos introduz no espírito dos Bem-aventurados. Por último, deixaremos ressoar em nossos corações a palavra: “fazei cunhar uma medalha conforme este modelo”.

Uma pequenina medalha num universo tão grande!

Do ponto de vista humano, os desafios da nossa sociedade são tão consideráveis e tão complexos que seríamos levados a nos desanimar e a perder a esperança no homem. Através do sinal da Medalha, sinal oferecido num período histórico que passava por profundas perturbações, Maria quer nos lembrar que, independente das realidades em que vivemos, Deus continua conosco: Ele vive no meio do mundo para transfigurá-lo. Ele permanece o mestre da história. Ele coloca em nossas mãos as sementes que não cessam de fecundar a terra para torná-la mais habitável.

O ensino social da Igreja não fornece receita única para a melhoria das relações entre os homens e a transformação da terra, mas convida a pessoa humana a colocar-se em contato com o coração do Deus Trino, modelo eterno de toda vida em comunhão. Jesus veio oferecer e partilhar sua Pessoa e sua Vida, oferecê-la e partilhá-la com cada um dos milhões de homens presentes sobre esta terra para que se deixem transformar por Ele.

Contemplando Maria durante a aparição de 27 de novembro, Irmã Catarina contempla uma humanidade, iluminada pela graça, transparente do Dom que lhe é feito e que ela partilha ao nosso mundo: “Maria, fecundada pelo Espírito, torna-se Concepção de Jesus Salvador”. A boa nova desta Aparição, é de nos repetir que a humanidade não se reduz às suas aparências de miséria ou de orgulho, é rica de um tesouro escondido, a própria vida do Espírito. Humilde e modestamente, a Medalha nos recorda que Deus é a verdadeira medida do homem. Somente Ele revela plenamente o homem a ele mesmo.

Um sinal du céu a escrutar à luz dos evangelhos

Num primeiro momento, deixemos ressoar o relato das bodas de Caná (Jo 2,1-11) a fim de fazer “cantar” a Medalha à luz deste Evangelho.

No Evangelho de São João, Caná é o início dos sinais onde Jesus “manifesta sua glória”. E o evangelista coloca a “mãe de Jesus” no centro deste relato. É ela que retém a atenção e é em função das suas reações que se falará, em seguida, das reações de Jesus. O milagre, a manifestação da glória de Cristo, passa pela sua mãe.

Neste episódio, Maria é aquela que sabe ver o todo da situação e olhar as coisas em detalhe. Apreendendo a cena com um olhar, ela compreende que algo de essencial está faltando. Seu dom de contemplação permite-lhe descobrir o que falta, compreendendo imediatamente o fundo da situação, não para acusar ou recriminar, mas para sofrer e amar. Após ter constatado o que faltava, Maria não fica lá. Sua disponibilidade atenta e discreta lhe faz dizer com simplicidade a Jesus: “eles não têm mais vinho”. Ela é a única a dizê-lo. Apesar da resposta misteriosa e desconcertante de Jesus, Maria coloca os homens em relação com seu Filho: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

Quando Jesus intervém, não somente dá do bom vinho, mas o dá em abundância. A superabundância quantitativa acrescenta-se um excesso qualitativo: este vinho é ainda melhor que o precedente! Não está aí uma maneira de evocar a superabundância da vida doada por Jesus, a generosidade divina? Deus dá sem medida: “As graças serão abundantes para todas as pessoas que a trouxerem com confiança” dirá Maria a Irmã Catarina.

No fim do relato, São João escreve: “Tal foi o primeiro dos sinais de Jesus. Ele manifestou sua glória e seus discípulos creram nele”. Contrariamente aos hábitos dos relatos de milagre onde a multidão se extasia, aqui, não se fala de pessoas; é como se não tivesse percebido nada. Há apenas o pequeno grupo de discípulos que se dispõe a crer nele. O verdadeiro milagre que mostra a glória de Jesus não é a transformação dos discípulos: discípulos que se tornam crentes?


O sinal de Caná e o do Calvário

Se São João nos diz que Caná é “o primeiro sinal”, não é porque este casamento faz sinal de um outro casamento, o último que Cristo vai selar com a humanidade no seu sangue à Cruz?

“Ora, o terceiro dia, houve um casamento em Caná…” Caná é o início dos sinais onde “Ele manifesta sua glória”, mas é também o anúncio do único e definitivo “terceiro dia”, aquele da Páscoa. Com efeito, se Caná é um início, a Paixão é o resultado: “Ele os amou até o fim”. O caminho da Cruz conduz ao início da Igreja. Na Cruz vai nascer a Igreja; os “discípulos” se tornam a Igreja pela primeira vez, cheios do vinho do Espírito.

No Evangelho de João, Caná e o Calvário são os dois únicos lugares onde se fala da “mãe de Jesus”. Anteriormente, não se fala de forma alguma. Caná e o Calvário estão estreitamente ligados. As duas vezes é chamada a “mãe de Jesus”. Em Caná, ela espera o vinho do Reino e Jesus dá sinal disso. Na Cruz, quando o sinal se torna realidade, então a mãe de Jesus é instituída “mãe de todo discípulo”, ela se torna a mãe da Igreja.


O sinal da Medalha

Por que Maria nos deixou um sinal? Para nos dar sinal de quê? O que a “mãe de todo discípulo” nos dá a conhecer, não é para nos conduzir a ver o que não se vê? Da mesma maneira que Maria preparou os servos das bodas de Caná a se colocarem em atitude de escuta da Palavra de Jesus, ela continua hoje a dar sinal de ir mais longe no caminho da fé, da confiança. Confiando-nos sua Medalha, Maria nos introduz numa caminhada de fé para nos tornar verdadeiros “discípulos de Jesus”.

Quando as palavras da curta oração “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós” vêm aos nossos lábios, pedimos a Maria para rogar por nós a fim de nos tornar mais “discípulos que crêem n’Ele”. Como em Caná, Maria comunica o que significa ser crente: fazer tudo o que Deus nos disser, nos abrir à disponibilidade incondicional.

A primeira discípula que acreditou

No simbolismo da Medalha, Maria ocupa um lugar particular como em Caná. A Medalha orienta o nosso olhar para Deus através da pessoa de Maria. Esta não está ao lado de Deus, mas diante d’Ele, não para escondê-Lo, mas para fazê-Lo aparecer numa luz humana, feminina, materna. Para Leonardo Boff, “Maria é o lugar onde Deus manifesta o seu rosto feminino”.

Olhando a Medalha, percebemos o olhar benevolente de Maria sobre o todo da Igreja e do mundo. Ela entende os sofrimentos inexprimíveis do nosso mundo e roga por nós e em nosso nome: “Eles não têm mais vinho”. Nós podemos também contemplar Maria, Serva, em relação com Deus e os homens. Quando diz aos servos: “Fazei tudo o que ele vos disser”, suas palavras não fazem eco às pronunciadas pelo Faraó durante a fome no Egito: “Ide a José, e fazei o que ele vos disser. Como a fome assolasse toda a terra, José abriu todos os celeiros e vendeu víveres aos egípcios. Mas a penúria cresceu no Egito”. (Gen. 41,55-56). Maria é mediadora por quem o poder de Deus se manifesta sobre a terra para a humanidade inteira. Ela nos ajuda a nos deixar inundar pela luz de Deus. O símbolo dos raios de luz, que saem em superabundância das mãos de Maria, não exprime o “bom vinho” que Jesus quer para nós, a irradiação dos dons de seu Espírito de humildade, de simplicidade e de caridade?

Maria, nossa Mestra de vida espiritual

Em Maria está um dos segredos da nossa vida de servas dos Pobres. Ela nos ensina a contemplar o Cristo em nosso serviço dos Pobres. Como em Caná, ela nos obtém:

  • A graça da oração para meditar em nosso coração a Palavra de Deus, aprofundar todos os acontecimentos da nossa vida à sua luz e louvá-Lo por suas maravilhas.
  • A graça da atenção para escutar os gritos dos pobres, compreender o que os toca, apreciar as situações como um todo.
  • A graça da humildade para reconhecer não somente as faltas que nos impedem de dar o “bom vinho”, mas também o dom dos outros sobre o qual apoiar-se.
  • A graça da fé que faz total confiança em Cristo.
  • A graça do espírito de serviço procurando unicamente a vontade de Deus.
  • A graça da caridade para colaborar com os outros.


A Medalha da Imaculada, um sinal que nos faz entrar no espírito das Bem-aventuranças

No Evangelho, Maria fala pouco, mas dá a Palavra: Jesus. Seu único desejo é conduzir-nos ao essencial do Evangelho. Se, apaixonando-nos pela Palavra, olhamos a Medalha, podemos dizer que é do mesmo modo. Pela grande riqueza dos seus símbolos, a Medalha nos propõe contemplar o mistério do Amor de Deus para com os homens. Somos convidadas a receber a Medalha assim como os pastores receberam o anúncio. Diante do menino Jesus, eles não encolhem os ombros, não discutem, mas abrem-Lhe seus corações.

Detendo-nos sobre algumas características da Medalha, podemos entrar no espírito das Bem-aventuranças que nos fala, entre outras, da humildade de Deus, do abandono à Providência e do espírito de contemplação.


Felizes os pobres de coração, o Reino de Deus é deles! (Mt 5,3)

Enquanto somos freqüentemente tentados a recorrer a um Deus poderoso e triunfante, Maria nos convida, pela simplicidade da Medalha, a nos converter à humildade de Deus. Deus se fez carne para permanecer conosco; um dia, Ele se torna o Crucificado com o coração transpassado que dá a sua vida por nós. Jesus reverteu o sentido das grandezas humanas. Deus feito homem até à morte de Cruz revela a verdadeira grandeza, a verdadeira potência. A glória da Ressurreição não tem nada a ver com as nossas glórias fracassadas.

A Medalha é a expressão da maneira de agir de Deus quando ele vem entre nós. É sempre com meios pobres e inesperados: uma gruta, um burrinho sobre o qual ele monta, uma cruz, a dos escravos… Para compreender todo o alcance da mensagem da Medalha, devemos, por conseguinte nos despojar da nossa auto-suficiência para nos revestir do espírito de humildade. Ainda hoje, Deus continua a se manifestar na fraqueza, na pobreza, no aniquilamento. É-nos pedido aprender a decifrar os sinais de Deus. Como dizia o cardeal Newman, Jesus “vindo ao mundo, não se agitou, não fez barulho, não fez ressoar sua voz… Isto vale ainda hoje: Ele fala em voz baixa, seus sinais são discretos…” .

Felizes os que têm confiança, eles serão salvos

“As graças serão derramadas sobre todas as pessoas que a usarem com confiança”. Através desta curta oração, Maria se compromete em estimular, despertar ou desenvolver a nossa confiança em Deus. É por isso que a Medalha só atinge o seu verdadeiro objetivo suscitando a confiança no coração.

Diante do medo dos outros que pode nos invadir e minar as nossas relações humanas, Deus confia em nós, Ele vem em nosso auxílio, Ele tem tanta confiança em nós que coloca em nossas mãos o que Ele tem de mais caro, seu Filho único. Para curar os nossos corações desconfiados e cheios de temor, Jesus não vem no poder, mas na ternura. Ele nos traz a misericórdia, a benevolência, a doçura e a paciência do Pai. Ele nos ensina sua confiança para com seu Pai. Maria está aí, ao nosso lado, para nos ensinar esta relação de confiança do Filho para com o Pai e nos ajudar a andar nesta confiança. Com Maria, tomamos consciência que ter confiança não é natural, mas um dom de Deus a acolher. “Senhor, nós cremos”, mas “aumenta em nós a fé” (Lc. 17,5) a fim de viver na certeza de que Deus é Providência para nós.

A Bartimeu, Jesus pergunta se ele tem consciência de que Deus, bom e previdente, pode ajudá-lo em sua situação e diante de sua confiança, Jesus lhe diz: “Vai, a tua fé te salvou” (Mc. 10,52). Nós também, com a mesma confiança que a de Bartimeu, peçamos a Deus a sua graça particular para viver bem o que ele nos pede.


Felizes os corações puros, eles verão a Deus (Mt 5,8)

Melhor do que um discurso, as duas faces da Medalha são um sinal luminoso que nos faz entrar no mistério de Maria. É-nos necessário “virar a Medalha” para compreender a profundidade do coração da Imaculada, unido ao de Jesus.

Será que por este simbolismo, Maria não nos dirige indiretamente a mesma mensagem: a do mistério de todo homem criado à imagem de Deus? A dignidade do homem é um dom maravilhoso que decorre do olhar de amor colocado por Deus sobre Jesus e sobre cada um de nós. Mas a realização efetiva deste dom depende do livre acolhimento do homem. Em outras palavras, será que Maria não nos recorda a importância de pedir a Deus uma atitude contemplativa para poder, nós também, “virar a medalha”? Com efeito, só um olhar de fé nos permite ir além das aparências para descobrir, em toda pessoa, a presença de Deus e reconhecer a sua verdadeira grandeza.

A Medalha da Imaculada: sempre a “receber” e a “difundir”
Pelo convite em fazer cunhar uma medalha com sua imagem, Maria quer deixar, a todos, um sinal da sua mensagem de ternura. Esta missão, confiada a Irmã Catarina, não nos compromete também, pessoalmente, a acolher Maria e a “gravar” a sua imagem no mais profundo do nosso coração”?

Gravar “sua imagem” no mais profundo do nosso coração, não é uma outra maneira de “receber Maria em nós”? Trata-se da mesma obra de graça: acolher, cada dia, Maria em nossa vida e nos deixar seduzir, com ela, até à extremidade do amor. Da mesma maneira que Isaías nos dizia da parte de Deus: “Teu nome está impresso na palma das minhas mãos”, Deus nos convida, por nossa vez, a gravar o seu Amor em nosso coração.

O que se passou no México, em 1531, foi maravilhoso. Durante uma das aparições de Nossa Senhora de Guadalupe a Juan Diego, a imagem de Maria ficou impressa sobre o casaco (a tilma) do camponês indiano. No dia 12 de dezembro de 1531, quando Juan Diego conta a sua aventura ao Bispo do lugar, este percebeu, sobre a tilma, a imagem de Nossa Senhora, muito bonita e cheia de doçura. Mas tarde, os exames oftalmológicos dos olhos de Maria, impressos sobre a tilma, revelaram a imagem do vidente na pupila dos olhos de Maria. Este último símbolo não manifesta magnificamente o lugar que Juan Diego tinha no coração de Maria?

Cada manhã, escutamos o apelo de Maria para “gravar a sua medalha” no fundo do nosso coração a fim de viver, com ela, a nossa vocação de filhos de Deus. Se olharmos o mundo com os seus olhos, escutarmos os apelos dos homens com seus ouvidos, amarmos nossos irmãos com o seu coração, então, poderemos ver “sua imagem” na bondade dos nossos olhos, na qualidade da nossa escuta, no dom de nossa vida.

Conclusão

Foi uma humilde Filha da Caridade que foi escolhida para ser o instrumento da Medalha da Imaculada. Isto não nos surpreende que Deus escolheu esta jovem Irmã e não outra que teria sido mais distinguida aos olhos do mundo. Irmã Catarina era pura e pobre de coração, sensível às “coisas de Deus”. Como Maria, Irmã Catarina era uma serva do Senhor, uma serva disponível e disposta a cumprir a vontade de Deus.

Parece difícil usar a Medalha sem ser impulsionada a contemplar a pureza do coração da Virgem Maria e a de Santa Catarina, e a se comprometer na vivência da humildade e da verdadeira fraternidade onde o menor é preferido.

Ó Maria, humilde Serva do Senhor,
nós te contemplamos em tua missão universal de Mãe da Igreja.
Teu carisma é olhar atento e reconfortante sobre “o mundo e cada um em particular”.
Ó Maria, única Mãe da Companhia,
Nós te agradecemos por ter olhado Irmã Catarina com tanto respeito.
Tu nos indicas, assim, onde se encontra a verdade do Evangelho.
Ó Maria Imaculada, nomeada, assim, no dia 27 de novembro de 1830,
Nós te agradecemos pelo dom da Medalha.
Nós nunca terminaremos de aprofundar a dimensão, a amplitude e a profundidade desta boa nova e tu nos convidas a vivê-la no dia-a-dia.

Por: Francisco Javier Fernández Chento
Fonte: http://vincentians.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário