Desafios
de uma evangelização na era pós-digital
Como
ser um evangelizador eficiente nesta era pós-digital?
Vivemos na era pós-digital! A
internet não é novidade, já não tememos tanto o mundo virtual, e todos nós, de
alguma maneira, estamos nos acostumando a viver no espaço real (físico e
analógico) e no mundo virtual (digital). Vivemos lá e cá, entre dois universos
que não se excluem necessariamente, complementam-se com frequência e demandam
de nós todo empenho na realização daquilo que somos e acreditamos.
São Paulo diz: “Ai de mim se não
anunciar o evangelho!”. Essa verdade se realiza tanto aqui como ali, tanto no
espaço presencial quanto no remoto. No entanto, se o mundo digital tem suas
múltiplas características próprias, suas próprias leis, é possível que um
evangelizador on-line precise desenvolver virtudes e habilidades que o capacite
a melhor enfrentar os perigos e desafios deste universo.
Em seu livro “Marketing e Comunicação
na era pós-digital”, o novo presidente do grupo Abril desde 2016, Walter Longo,
alerta para aspectos específicos do mundo digital: efemeridade, mutuabilidade,
multiplicidade, sincronicidade, complexidade, tensionalidade. Ciente de que o
anúncio querigmático não é uma campanha de marketing, propomo-nos, neste texto,
investigar aquilo que podemos aproximar ou confrontar com a experiência
evangelizadora.

Foto: Pixtum by Getty
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Efemeridade
A efemeridade afirmada por Longo
diz respeito sobre a velocidade com que tudo “envelhece” no universo digital.
Não são apenas as ferramentas, mas também as mídias. Um evangelizador
eficiente, nesta era pós-digital, precisa se antecipar, ver na frente as tendências
e ser capaz de mudar, de adequar seu formato e conteúdo para melhor
comunicar a
sua mensagem. “Pensar rápido!” é a palavra de ordem. A velha máxima “em time
que está ganhando não se mexe” não tem mais lugar. O evangelizador on-line
precisa ser ágil e atualizar constantemente seu discurso, sob o risco de
oferecer comida fria a quem está precisando do seu alimento espiritual.
Mutualidade
A mutualidade é a conexão entre as
coisas, as máquinas, os dispositivos. Nosso celular comanda por aplicativos, nossa
agenda, nossos e-mails, nossa conta bancária, nossas redes sociais e, pasmem,
até a nossa prática meditativa (exemplo? O app Headspace). Podemos acessar tudo
o que se relaciona a nossa vida e nosso cotidiano.
Para melhor maximizarmos os
efeitos da comunicação do anúncio evangélico, precisamos que o evangelizador
entenda esse processo e como ele impacta nossa vida. A conexão entre todos os
âmbitos da nossa vida gera uma quantidade de informação e dados (Big Data,
Small Data…), os quais precisam ser interpretados para que se otimize nossa
missão. Entender a métrica oferecida por redes sociais pode ser um bom ponto de
partida para compreender com quem nos comunicamos: seus hábitos, seus
interesses e rotina. Se Paulo, em Atenas, diante dos muitos deuses, soube
identificar na estátua ao “deus desconhecido” uma oportunidade de anunciar o
Cristo, em tempos atuais precisamos saber quais são os equivalentes a este
“deus desconhecido” de agora. É preciso não só olhar os dados, mas aprender a
interpretá-los, fazê-los gerarem fatos!
Multiplicidade
A multiplicidade: a antiga
linearidade morreu. Hoje em dia, ao mesmo tempo que um jovem assiste a um filme
no cinema com sua namorada, atualiza suas redes sociais em grupos de WhatsApp e
faz uma busca no Google sobre o melhor lugar para levar sua acompanhante para
jantar depois. Nossos ouvintes estão em muitos lugares e mudam-se (de mídia)
com uma velocidade incrível. É preciso entender esta relação sem preconceitos,
para que se possa dialogar de forma eficaz, conscientes das limitações que esse
aspecto caótico e fragmentário pode trazer. Fica a pergunta: de que forma está
fragmentação dificulta ou mesmo impossibilita de se falar de valores como
unidade e integralidade?
Sincronicidade
A sincronicidade retoma o
pensamento de que as pessoas (nesta era pós-digital) estão em muitos lugares ao
mesmo tempo. No entendimento das métricas e dados já citados podemos afinar a
nossa sensibilidade e compreender melhor os interesses e necessidades de quem
nos escuta, de quem participa da audiência deste novo areópago digital. É
preciso estar atento aos problemas reais e necessidades de quem nos escuta para
que o anúncio evangélico tenha sincronismo com o cotidiano vivido da nossa
audiência.
Complexidade
A complexidade é também um aspecto
fundamental nos tempos atuais. Não há mais o número anônimo na audiência, pois
a internet deu voz a todos os que são atingidos pela nossa mensagem. Eles podem
concordar, discordar, agredir, reagir, apoiar etc. Essa complexidade faz nascer
a necessidade de uma habilidade especial: a conexão com as múltiplas
disciplinas. Não se precisa ter a resposta para tudo, mas é preciso ter uma
compreensão do todo e não só das partes, juntar as peças do quebra-cabeça
evangelizador e oferecer caminhos, textos e contextos possíveis e válidos para
um anúncio mais efetivo.
Tensionalidade
Walter Longo fala, por último, na
tensionalidade. Essa capacidade de não ser tão coeso, de inserir aspectos,
muitas vezes plurais e contraditórios, gerando tensão, uma conexão emocional.
Ele cita, por exemplo, o caso de Steve Jobs que era ao mesmo tempo carismático
e com fama de carrasco. Gerando tensão e se destacando da multidão. Tentando
traduzir em termos evangelizadores, talvez possamos entender que a proximidade
que o universo digital nos proporcionou, faz surgir uma necessidade vital do
ser humano: se reconhecer, na sua limitação e pluralidade, de forma igual,
sincera e verdadeira naqueles que nos ofertam um caminho espiritual.
Evangelização
não é marketing. Não de um jeito institucional de se pensar. Assim como o Papa
Francisco já afirmou que a Igreja não é uma ONG. Mas a reflexão a partir de
pontos de vistas diferentes pode nos sugerir outras possibilidades de fazer
aquilo que nos é uma imposição do amor: levar o Cristo a todos!
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