O que é a fé?
A fé católica é coisa absolutamente diversa de uma simples crença

E vamos começar desenvolvendo o segundo
desses pontos: a fé católica é coisa absolutamente diversa de uma
simples crença. É importante frisar isso, porque, hoje em dia, as
pessoas parecem já não mais saber o que é fé, acham que ter fé é acreditar em
qualquer coisa. Porém, como sublinhou o atual Papa Bento XVI, quando ainda era o
Cardeal Ratzinger, responsável pela Congregação da Doutrina da Fé (órgão que
assessora o Santo Padre na defesa da fé), na famosa declaração Dominus
Iesus: «Deve-se manter firmemente a distinção entre a fé teologal e a
crença nas outras religiões» (n. 7 do documento).
Assista: "Exercer
a racionalidade com a fé", com padre Paulo Ricardo
Precisamos, portanto, retomar
o sentido da fé. Para isso, podemos recorrer ao significado primitivo e
etimológico da palavra. Fé (do latim fides) significa a confiança que
depositamos na palavra de alguém. Este sentido ainda está bem presente em
expressões legais, como “boa-fé” ou “má-fé”. Um oficial de justiça, por exemplo,
quando atesta algum acontecimento, escreve “certifico e dou fé”; com isso ele
quer dizer que é verdade o que ele está atestando e que as pessoas podem confiar
no que ele está falando. Dos documentos lavrados em cartório também se diz que
têm “fé pública” – é mais uma aplicação do mesmo sentido.
Quando confiamos na palavra de um homem,
temos o que se chama “fé humana”. A
fé humana é um meio de conhecimento, grande parte dos conhecimentos que
temos de história, geografia ou de ciências naturais chega a nós por meio da fé
humana. São conhecimentos que não podemos verificar por nós mesmos; todavia, nós
os aceitamos confiando na palavra dos que nos ensinaram. Por exemplo, só sabemos
que a Independência do Brasil foi proclamada em 1822 porque confiamos nos
documentos que nos relatam isso e acreditamos no magistério dos historiadores –
nenhum de nós já havia nascido àquela época e poderia verificar tal fato por si
mesmo.
Como afirmei acima, quando aceitamos como
verdade o que nos diz determinado homem, digno de confiança, temos o que se
chama fé humana. Porém, quando aceitamos como verdadeira a Palavra revelada de
Deus, temos o que se chama “fé divina”. É por isso que o Catecismo da Igreja
Católica, nos seus parágrafos 142 e 143, define a fé como «a resposta do homem
ao Deus que se revela».
Ter fé, portanto,
não é acreditar em qualquer coisa; ter fé é aceitar como verdadeira a
Palavra revelada de Deus, é aderir voluntariamente às verdades que Deus
comunicou à humanidade, sem as aumentar nem as diminuir.
Isso, por si só, já mostra o quão distante
está a fé católica de uma simples crença. A fé é um conhecimento, mas uma
simples crença não é conhecimento. Uma crença pode ser puro fruto da imaginação,
da fantasia e da subjetividade do crente. No entanto, a fé está baseada no fato
histórico e objetivo da Revelação. A fé é um conhecimento sobrenatural
historicamente transmitido por Deus à humanidade. «Deus, tendo falado outrora
muitas vezes e de muitos modos a nossos pais pelos profetas, ultimamente, nestes
dias, falou-nos por meio de seu Filho» (Hb 1,1-2).
O
católico, portanto, não é um crente, mas um fiel, que guarda na inteligência
e no coração o conhecimento sobrenatural transmitido aos homens por Deus. Este
conhecimento sobrenatural em que consiste a fé está depositado nas duas fontes
da Revelação divina, a Sagrada Escritura e a Tradição Apostólica, e nos é
transmitido por intermédio do magistério da Igreja. Entretanto, existe um
conhecimento natural de Deus que, de certo modo, consiste num preâmbulo da fé e
do qual pretendemos falar, com a ajuda do Altíssimo, no próximo
artigo.
Fonte: Canção Nova
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