Para se fazer a vontade de Deus é preciso antes de tudo ser
humilde, “pobre de espírito” como pediu Jesus

Assim como, por exemplo, a capital de um estado
ou de um país, é de onde procedem as ordens, decisões e comandos, assim também,
desses pecados “cabeças”, nascem muitos outros. Por isso eles sempre mereceram,
por parte da Igreja, uma atenção especial. São sete: soberba, ganância, luxúria,
gula, ira, inveja e preguiça.Houve um santo que disse
que, se a cada ano vencêssemos um desses sete pecados, ao fim de sete anos,
seríamos santos. Portanto, vale a pena refletir sobre eles, a fim de
rejeitá-los, com o auxílio da graça de Deus e de nossa vontade. O primeiro, e
sem dúvida o pior de todos, é a soberba. É o pior porque foi exatamente o que
levou os anjos maus a se rebelarem contra Deus, e levou Adão e Eva à
desobediência mortal.

Acha-se cheia de si mesma, pensa, melancolicamente, que é a
própria autora daquilo que tem ou que faz de bom, e se esquece de que tudo vem
de Deus e é dom do alto, como disse São Tiago: “Toda dádiva boa e todo dom
perfeito vêm de cima: descem do Pai das luzes” (Tg 1,17).
O soberbo se esquece que é uma simples criatura,
que saiu do nada pelo amor e chamado de Deus, e que, portanto, Dele depende em
tudo. Como disse Santa Catarina de Sena, ele “rouba a glória de Deus”, pois quer
para si as homenagens e os aplausos que pertencem só a Deus, já que Ele é o
autor de toda graça.
A soberba é o oposto da humildade. Essa palavra
vem de “humus”, daquilo que se acha na terra, pó. O humilde, é aquele que
reconhece o seu “nada”, a sua contingência, embora seja a mais bela obra de Deus
sobre a terra, a sua glória, como dizia santo Irineu.
Foi a soberba que perdeu a humanidade, foi a
humildade que a salvou. São Leão Magno, Papa e doutor da Igreja, garante que:
“Toda a vitória do Salvador dominando o demônio e o mundo, foi iniciada na
humildade e consumada na humildade!”
Adão e Eva sendo criaturas quiseram “ser como
deuses” (Gn 3,5), Jesus, sendo Deus, fez-se como a criatura. Da manjedoura à
cruz do Calvário, toda a vida de Jesus foi vivida na humildade e na humilhação.
São Paulo resume isso na carta aos filipenses: “Sendo Ele de condição divina,
não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo
exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se
obediente até a morte, e morte de cruz” (Fil 2,6-8).
Pela humildade e pela humilhação Jesus se tornou
o “novo Adão” que salvou o mundo (Rm 5,12s). Maria, a mãe do Senhor, tornou-se a
“nova Eva”, ensina a Igreja, porque na sua humildade destruiu os laços da
soberba da primeira virgem. Ela disse: “Ele olhou para a humildade de sua
serva”.(Lc 1,39)
Muitos cristãos são cheios de boas virtudes, mas
infelizmente tornam-se “inchados”, pensando infantilmente que essas boas
virtudes são méritos próprios e não graças de Deus, para serviço dos outros.
Deus disse a Santa Catarina que: “o pecador, qual ladrão, rouba-Me a honra, para
atribuí-la a si mesmo”.
São Paulo pergunta aos corintios: “O que há de
superior em ti? Que possuis que não tenhas recebido? E, se o recebeste, porque
te glorias, como se o não tivesses recebido?” (1 Cor 4,7).

É de Santo Agostinho a expressão: “Eis a grande
ciência do cristão: conhecer que nada é e nada pode”.
Ser humilde é ser santo, é viver o oposto de tudo
isso: é saber descer do pedestal, é não se auto-adorar, é preferir fazer a
vontade dos outros do que a própria, é ser silencioso, discreto, escondido, é
fugir das pompas e dos aplausos.
São João Batista foi modelo dessa humildade e nos ensinou a sua
essência. Ao falar de Jesus, ele disse: “Importa que Ele cresça e que eu
diminua!” (Jo 3,30).
Isto diz tudo. Quando Jesus iniciou a sua vida
pública, João o apresentou para o povo: “eis o Cordeiro de Deus”, e desapareceu,
até ser martirizado no cárcere de Herodes. Que lição de humildade! Também Nossa
Senhora, sendo, “a Mãe do Senhor” (Lc 2,43), fez-se “a escrava do Senhor” (Lc
1,38).
Prof. Felipe Aquino
Fonte: Canção Nova
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