O que é ter e assumir a fé?
Como responder a crise de fé do homem

O enredo é uma comédia: o papa,
recém-eleito, é acometido por uma crise de pânico ao ter que assumir uma função
sem sentido numa instituição caduca e vazia que sobrevive de fachada. A intenção
demolidora do autor pode ser resumida na resposta que o novo papa, trajando
roupas civis e em fuga pelas ruas de Roma, dá a alguém que lhe pergunta sobre a
profissão que exerce: “Ator!”
Para Moretti, a Igreja Católica se
assemelha a uma peça teatral ultrapassada, e suas lideranças, a atores que
desempenham friamente um papel que lhes é imposto, mas
do qual não entendem o sentido e a validade.
É inútil negar: a “mãe de todas as
crises” por que passa atualmente a humanidade é a diminuição ou a ausência da
fé. Até mesmo nas religiões fundamentalistas, nas quais as pessoas matam em nome
de Deus; o que as move não é o compromisso com uma sociedade fraterna e
solidária – suporte de toda crença que se preze –, mas ideologias alicerçadas no
medo e na insegurança, que as impedem de dialogar e de conviver com o diferente,
visto como ameaça.
Assista: "É preciso ser católico de verdade", com professor Felipe Aquino
Não foi por nada que o Papa Bento XVI
convocou a Igreja Católica para dois grandes acontecimentos em 2012.
Primeiramente, o Sínodo dos Bispos, a ser realizado durante o mês de outubro,
com o tema: “A nova evangelização para a transmissão da fé cristã”. E, durante o
Sínodo, no dia 11, o
lançamento do “Ano da Fé”, comemorando a passagem do 50º aniversário do
início do Concílio Vaticano II (1962/1965). A carta de convocação lembra que «a
fé é um dom que se deve redescobrir, cultivar e testemunhar». E conclui
almejando «que Deus nos conceda saborear a beleza e a alegria de sermos
cristãos!».
O
que significa ter e assumir a fé? Uma das respostas mais lapidares dadas
pela Bíblia é oferecida pela Carta aos Hebreus: «A fé é a certeza e a
posse do que se espera e o conhecimento das realidades que não se veem»
(11,1). Nesse sentido, ela não se identifica simplesmente com o
sentimento religioso, uma sensação de carência que acompanha o ser humano desde
o seu nascimento: sentindo-se pequeno e indefeso diante do desconhecido e das
dificuldades, ele busca fora de si – numa força superior – as energias que não
encontra em seu interior. Nem se resume a um mero conhecimento intelectual de
verdades mais ou menos reveladas, como ensina São Tiago: «Tu crês que existe
Deus? Muito bem: mas também os demônios creem e... continuam no inferno»
(2,19).
Para não definhar e sumir, a fé precisa ser
sustentada por uma constante conversão, manifestada por atos concretos: «A
fé que não se traduz em obras, morre» (Tg 2,17). É o que lembram os Bispos
latino-americanos, em sua Conferência de Aparecida, em 2007: «Não resistiria aos
embates do tempo uma fé católica reduzida a uma bagagem, a um elenco de algumas
normas e de proibições, a práticas de devoção fragmentadas, a adesões seletivas
e parciais das verdades da fé, a uma participação ocasional em alguns
sacramentos, à repetição de princípios doutrinais, a moralismos brandos ou
crispados que não convertem a vida dos batizados. Nossa maior ameaça é o
medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo
procede com normalidade, mas, na verdade, a fé vai se desgastando e degenerando
em mesquinhez. A todos nos toca recomeçar a partir de Cristo,
reconhecendo que não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande
ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo
horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva».
Diante da corrupção e da violência que
avançam em toda a parte, cresce o número dos
que, a exemplo de São João, veem «o mundo inteiro sob o poder do Maligno».
Contudo, sua alegria e seu consolo serão grandes se se deixarem envolver pela
certeza que levava o mesmo Apóstolo a bradar: «Esta é a vitória que vence o
mundo: a nossa fé» (I Jo 5,4.19). Certeza que se fundamenta na ressurreição de
Jesus: «Coragem, eu venci o mundo!» (Jo 16,33).
Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo de Dourados
Fonte: Canção Nova Bispo de Dourados
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