O Evangelho como um direito de todos
Ide, pois, ensinai todas as gentes
Em
nosso artigo anterior tínhamos nos proposto a tratar da fé e de como ela
difere da mera crença. Entretanto, na próxima quinta-feira se comemora a
Ascensão do Senhor, celebração que, no Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), com prévia aprovação da Santa Sé, transferiu para o 7º domingo
do Tempo Pascal. Essa festa nos motiva a falar de um assunto muito importante,
que não poderíamos omitir, de modo que nossos comentários sobre o que seja a fé
e como ela difere de uma mera crença terão de aguardar a próxima
semana.
Agora queremos meditar um pouco sobre as
palavras de despedida que Nosso Senhor dirigiu aos apóstolos, antes de Sua
gloriosa Ascensão aos Céus: «Todo o poder me foi dado no céu e na terra.
Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo. Ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei. Eu
estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28,19-20).
Essas palavras de Jesus são muito especiais, porque constituem o último recado
que Ele deu aos Seus discípulos antes de ascender à direita do Pai. Geralmente,
os últimos recados que damos quando partimos se referem às coisas que mais nos
importam.
Essas palavras abrem-se com uma declaração
da realeza universal de Jesus Cristo: «Todo
o poder me foi dado no céu e na terra». Tal como no Apocalipse, aqui o
Senhor Jesus se apresenta como «o Santo e o Verdadeiro, que tem a chave de Davi,
que abre e ninguém fecha, que fecha e ninguém abre» (Ap 3,7). Essa declaração
nos deve encher de confiança: se as coisas parecem confusas, se o mal parece
vencer, podemos nos manter serenos na esperança, pois Jesus está no controle de
tudo e, no final, veremos Sua vitória contra nossos inimigos.
Assista: "Renovados para testemunhar Jesus", com padre José Augusto
O segundo recado contido nessas palavras de
Jesus é sobre o mandamento de ensinar o Evangelho a todas as gentes:
«Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos
mandei». Talvez seja difícil para nós perceber isso, mas esse pedido de
Cristo teve consequências extraordinárias e pareceu insólito para os homens da
época. Nunca antes alguém havia proposto algo tão arrojado. Até onde sabemos,
esta foi a primeira vez que, na história da humanidade, alguém disse existir
algo que deveria ser levado a todas as pessoas em toda a Terra, sem distinção
alguma, independentemente de sexo, raça ou condição social, estivessem ou não
essas pessoas preparadas para receber esse bem – «Deus não faz acepção de
pessoas» (At 10,34). Essa foi a primeira vez na história humana em que foi
enunciada a existência de algo a que todos os homens têm direito.
A partir desse reconhecimento do direito de todos ao
Evangelho, foi-se tomando consciência de que existem outros bens a que todos
também têm direito. Esse foi o ponto inicial que permitiu a compreensão de que
também a liberdade, a educação e a saúde, por exemplo, deveriam estar à
disposição de todos.
Quando um cristão anuncia o
Evangelho, ele não o faz como quem faz um favor, mas como quem entrega a outrem
algo que lhe pertence, que é seu direito. De modo que, se acaso sonegasse aos
homens o Evangelho, julgaria haver cometetido uma injustiça: «Ai de mim, se eu
não evangelizar» (I Cor 9,16).
Por final, o terceiro recado da mensagem
visa novamente reforçar nossa confiança no auxílio e na presença do Cristo: «Eu
estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo». Jesus continua presente na
Igreja pela fé e especialmente pela Eucaristia.
Celebremos, pois, nesse espírito a Ascensão
do Senhor, meditando com especial atenção esses últimos recados que Jesus, antes
de partir, deixou a Seus discípulos!
Rodrigo R. Pedroso
Fonte: Canção Nova
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