Quando o penitente se aproxima para confessar os pecados, o sacerdote o
recebe com benevolência e o saúda amavelmente. Assim começa a celebração do
sacramento da penitência. Depois, exorta o penitente à confiança em Deus com
estas palavras ou outras semelhantes: “Deus, que fez brilhar a sua luz em nossos
corações, te conceda a graça de reconhecer os teus pecados e a grandeza de tua
misericórdia”. Em seguida, o sacerdote pode recordar um texto da Sagrada
Escritura que proclame a misericórdia do Senhor e exorte à conversão. Só então a
pessoa que foi ao sacramento para celebrar a grandeza do amor misericordioso de
Deus confessa os seus pecados, acolhe oportunos conselhos e a ação penitencial
indicada pelo confessor. Misericórdia, benevolência, amor, graça, amabilidade!
Que expressões! É a festa do perdão num tribunal, cuja sentença, quando existe a
contrição e o desejo de uma vida nova, é sempre a absolvição! Este é o
sacramento do amor misericordioso de Deus! É sacramento de Quaresma, é graça
oferecida a todos os que se reconhecem frágeis e pecadores.
Mas o que é o
pecado? Para muitas pessoas trata-se de infringir uma norma, sendo Deus pensado
como um policial que vigia e está pronto para sinalizar e multar! Outras, quem
sabe, consideram pecado aquilo que “machuca por dentro” e chegam a ficar muito
tranquilas, pois julgam ser errado apenas o que “pesou”! Consciência legalista
ou relaxada.
Difícil e frutuoso é entender o sentido do pecado para o cristão. Tendo
reconhecido a grandeza do amor de Deus, uma aliança com a qual Ele nos introduz
na comunhão com sua vida sobrenatural, sabendo que amor com amor se paga, o
cristão toma consciência de ter rompido a aliança com seus gestos de egoísmo e
de infidelidade. Volta-se, então, para Deus, reconhece o olhar amoroso que o
encontra e decide retornar, com todo o júbilo do coração, à comunhão com a vida
verdadeira de amor a Deus e ao próximo. Confessar-se e acolher a Palavra da
Igreja que o absolve é sempre festa, alegria renovada, liberdade interior
reencontrada. Se muitas pessoas podem ouvir desabafos ou histórias intrincadas
de verdadeiros dramas, é no sacramento da penitência que se podem receber as
palavras consoladoras: “Eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo”.
O confessor que acolhe o penitente é também
pecador. Carece do reconhecimento das próprias faltas e do perdão sacramental.
Quando, há poucos dias, explorava-se o tema da infalibilidade papal em matéria
de fé, foi necessário esclarecer que o Sucessor de Pedro que aguardamos eleito
proximamente, assim como os que o precederam, é homem como todos os outros,
frágil, pecador, amado intensamente pelo Pai do Céu, escolhido por meios muito
simples, como o voto do Colégio Cardinalício, gente carente das orações, os
quais o povo de Deus já assegura e acompanharão durante o Pontificado, pedindo
que “o Senhor o guarde e o fortaleça, lhe dê a felicidade nesta terra e não o
abandone à perversidade dos seus inimigos” (Oração pelo Papa, usada antes da
Bênção Eucarística). Ele será sustentado, como Moisés em oração no alto do
Monte, com braços que se estendem do mundo inteiro, fortes na prece e
absolutamente confiantes na graça de Deus, para que, infalível para garantir a
prática da fé verdadeira, seja “pedra” como Pedro!
Todos nós pecadores amados e salvos pela
misericórdia de Deus, parecidos com o apóstolo Pedro, escolhido por Jesus,
estamos à vontade para acolher a Palavra proclamada pela Igreja no quarto
Domingo da Quaresma, domingo da Alegria. Trata-se da Parábola do Pai
Misericordioso ou do Filho Pródigo, verdadeiro Evangelho dentro do Evangelho (Lc
15,1-3.11-32). Podemos participar das várias cenas. Quem nunca sonhou com
aventuras, desejo de correr pelo mundo e se esbaldar em prazeres? Entre de cheio
na Parábola! Um pai frágil em suas exigências, coração mole, julgado por muitos
como exagerado em sua condescendência, nós já encontramos ou o fomos! E os donos
da verdade, cujos rastros repousam dentro de nosso pretenso bom comportamento?
Cara de filho mais velho, bem comportado, juiz dos outros! A parábola é tão
realista quanto profunda e envolvente. Ninguém escapa!
Na certeza de
que ela pode iluminar o caminho da casa de Deus para muitas pessoas, aqui está o
que Ele oferece a quem jogou fora o que possuía de melhor, sua própria
dignidade, arrependeu-se e quer voltar. Esta pessoa, tenha o meu nome ou o seu,
é destinada à liberdade, não pode ficar descalça como um escravo. Sua roupa,
aquela mesma, novinha no Batismo, está guardada no baú da Igreja, pronta para
ser de novo endossada. A aliança de amor, proposta por Deus, caiba como um anel
no dedo de todos os que se voltarem para ele. E a festa será a da Eucaristia,
banquete em que o próprio Filho amado do Pai se faz alimento. A mesa já está
preparada!
Para chegar lá, nesta Quaresma, todos tenham a graça de ouvir
de algum sacerdote (Cf. Ritual da Penitência): “Feliz quem foi perdoado de sua
culpa e cujo pecado foi sepultado. Meu irmão, minha irmã, alegra-te no Senhor e
vai em paz”.
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA
Dom
Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração
Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi
ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em
Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das
diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de
2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.
Fonte: Canção NOva
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