A Igreja reconhece o valor e o significado profundo do jejum para a espiritualidade cristã. O quinto mandamento da Igreja nos orienta a “Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja” (Catecismo, 2043). Entre os chamados Padres da Igreja, os primeiros teólogos das origens cristãs, Santo Agostinho reconhece o valor espiritual e moral do jejum: “a abstinência purifica a alma, eleva a mente, subordina a carne ao espírito, cria um coração humilde e contrito, espalha as nuvens da concupiscência, extingue o fogo da luxúria e acende a verdadeira luz da castidade” (Sermão sobre a oração e o jejum).
Em nosso tempo, a Igreja ainda recomenda a prática do jejum. O jejum é citado no Catecismo da Igreja Católica em 9 parágrafos específicos. Os parágrafos são: 575, 1387, 1430, 1434, 1438, 1755, 1969, 2043 e 2742. Síntese desse ensinamento é a mensagem de que os gestos exteriores (saco e cinzas, jejuns e mortificações) não devem ser vazios, mas devem ser acompanhados da conversão do coração ou da penitência interior: é por essa razão que o jejum é associado ao Sacramento da Penitência e da Reconciliação. Além do jejum, a oração e a esmola aparecem como as principais formas de expressão da penitência interior. Assim, o jejum, a oração e a esmola representam a conversão em relação a si mesmo, a Deus e aos outros (Catecismo, 1434). Como afirmou o Papa Bento XVI, na homilia da celebração da Quarta-Feira de Cinzas, deste ano, “em relação harmoniosa com a oração, também o jejum e a esmola podem ser considerados lugares de aprendizagem e prática da esperança cristã”.
O Concílio Vaticano II assim nos ensina: “A penitência do tempo quaresmal não deve ser somente interna e individual, mas também externa e social. Fomente-se a prática penitencial de acordo com as possibilidades de nosso tempo, dos diversos países e da condição dos fiéis (...). Tenha-se como sagrado o jejum pascal que há de celebrar-se em todos os lugares na Sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor e ainda estender-se segundo as circunstancias, ao Sábado Santo, para que deste modo cheguemos à alegria do Domingo da Ressurreição com ânimo elevado e grande entusiasmo” (Sacrosanctum Concilium, n. 110). Para o Papa Bento XVI, “jejuar significa aceitar um aspecto essencial da vida cristã. É necessário redescobrir também o aspecto corporal da fé, a abstinência do alimento é um desses aspectos” (Joseph Ratzinger, no livro A Fé em crise?)
[CIC 1434]
As múltiplas formas da penitência na vida cristã A penitência interior do cristão pode ter expressões bem variadas. A escritura e os padres insistem principalmente em três formas: o jejum, a oração e a esmola, que exprimem a conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da purificação radical operada pelo batismo ou pelo martírio, citam, como meio de obter o perdão dos pecados, os esforços empreendidos para reconciliar-se com o próximo, as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade, “que cobre uma multidão de pecados” (1Pd 4,8). [Catecismo de São Pio X]
O jejum constitui um dos princípios fundamentais da vida cristã; ele torna o devoto capaz de viver de acordo com a vontade de Deus; em todas as circunstâncias. Mediante a prática do jejum, a vontade de Deus poderá ser reconhecida mais facilmente, e raramente será perdida de vista. Como a respiração é função fundamental da vida física, assim o jejum e a oração representam as funções fundamentais da vida espiritual. [Papa Bento XVI]
Com o jejum “aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor fazendo com que o amor a Deus seja também amor ao próximo”
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